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sábado, 25 de fevereiro de 2012

O DIA EM QUE BILL RODGERS ABANDONOU A MARATONA DO RIO - 1982

BILL RODGERS ACABOU NO COPA

Bill Rodgers' running tips

                                     Era o ano de 1982 e eu estava lá. Era a minha terceira maratona, se não me falha a memória. Uma tarde quente e úmida. Um pouco atípica, diria, para o inverno carioca. O sol brilhava forte ainda quando o momento da largada se aproximava. Os seis mil maratonistas - aproximadamente - aglomeravam-se no Leme com grande expectativa. Afinal, a tarde prometia ser histórica com a presença da grande estrela da época, Bill Rodgers ( 0 vencedor da edição  anterior) e a estrela em ascensão, o português Delfim Moreira.

                                   Bill Rodgers é uma lenda das maratonas. Vencedor da Maratona de Boston e Nova York por quatro vezes cada uma, venceu várias outras ao redor do mundo, como a Maratona de Melbourne, Amsterdam, Houston, Rio de Janeiro....

                                    Mas naquele domingo de agosto de 1982, não respeitando o calor sub-saariano, larga extremamente forte. E na sua perseguição, mais comedido, vem o excelente corredor Delfim Moreira, repetindo a estratégia do ano anterior.
                                     Quando de volta a Copacabana, depois de ter corrido pela Urca, Aterro e centro da cidade, Bill Rodgers já vencido pelo cansaço e o calor,  ultrapassado por Delfim, em frente ao Copacabana Palace , saiu da maratona e foi direto ao chuveiro(ou provavelmente banheira).
                                     Em entrevista ele lamentou profundamente ter desistido de uma maratona "aqui no Rio pela primeira vez".  A verdade é que ele comentou com José Inácio Werneck,  editor de esportes do JB e diretor da Maratona Atlântica-Boa Vista, que muitos km antes só pensava em voltar ao Copa para uma banheira de água gelada. Era o comentário frequente do dia seguinte, ofuscando injustamente a grande vitória do atleta português.





                                        Muitos anos depois, em 2009 quando corri a Maratona de Boston, senti uma grande emoção ao reconhecer Bill Rodgers. Veio-me as lembranças daquela maratona do Rio. Corri com prazer algumas centenas de metros ao lado dele. Por alguns minutos tive a esperança de que ele levantasse o olhar e pudéssemos iniciar um breve diálogo. Mas ele continuou com suas passadas elegantes, silencioso, concentrado, impertubável, como um rei que nunca perde a sua majestade. Assim, voltei ao meu pace normal e o vi desaparecer na multidão.
                                       Eu soube no dia seguinte através dos jornais de Boston que ele terminou em 4:06:26, depois de passar por uma cirurgia de câncer na próstata e um longo período sem correr maratonas.



                                 Correr maratonas então é isso. Fazer parte da história. Partilhar o mesmo terreno, os mesmos percursos, as mesmas alegrias e glórias, os mesmos sofrimentos, lado a lado, dos seus ídolos. E não ser apenas um reles espectador....

sábado, 11 de fevereiro de 2012

DIÁRIO DO CORREDOR

                                            DIÁRIO DO CORREDOR




   

                                                   

                                                           "O espírito humano, como o heliotrópio, olha sempre de face um sol que o atrai, e para o qual ele caminha sem cessar: é a perfectibilidade !!


                                                     A busca em minha blibioteca foi inesperadamente breve. Em pouco tempo já o estava relendo. Este livro ," Diário do Corredor" de Ayrton Ferreira (engenheiro civil, maratonista, nascido em 1936), surgiu nos anos 80, ainda nos primórdios da explosão da quantidade de maratonas, era sempre comentado nas rodinhas de conversas sobre maratonas.
                                                   Em verdade, talvez seja um dos primeiros livros - senão o primeiro - que li sobre corridas e corredores. Um livro de escrita fácil e simples, desprovido de sofisticaçoes em informações técnicas. Quase um manual. À época, extremamente útil, tanto ao corredor iniciante como o veterano. Isto porque traz também planilhas e informaçoes sobre as maratonas de Boston, Nova York etc.
                                                    Claro, neste trinta anos houve uma evolução exponencial sem precedentes no modo de treinamento, principalmente aquele preconizado pelos técnicos. No entanto, várias informações permanecem ainda atualíssimas.
                                                     Acrescenta-se também que há vários capítulos que abrangem desde dicas sobre o vestuário, alimentação, calçados, assim como um capítulo especial sobre a Maratona Atlântica Boavista, 1980, no Rio de Janeiro. Memorável para aqueles já corriam maratonas naquele tempo.
                                                    O valor sentimental deste livro, pelo menos para mim, é enorme. Foi lançado em uma época na qual eu era um maratonista neófito e cheio de sonhos em um dia correr as melhoras maratonas do mundo. E assim buscava avidamente as informações disponíveis em livros, revistas e jornais. De fato, ser maratonista era  então mais um estado de espírito do que a aparência egocêntrica de um ser especial.
                                                   
                                                 Ao terminar de relê-lo, ponho-me a relembrar as minhas primeiras maratonas com nastalgia. É para isso que servem os livros: contar uma história de vida. Com ou sem perfeição, não importa.

              DIÁRIO DO CORREDOR (Bireau Gráfica e Editora, 1980, 196 pags., esgotado)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A FÉ EM CARRUAGENS DE FOGO



CARRUAGENS DE FOGO

                                                                  
                                                   
                                      http://www.youtube.com/watch?v=L-7Vu7cqB20

                         Ouvi pela primeira vez a trilha sonora deste filme ganhador de quatro Oscars ( e vários outros prêmios mundo afora) na Maratona do Rio em 1982. Foi uma emoção indescritível...  Minutos antes da largada, o sistema de som disparou a música tema composta pelo grego Vangelis. Houve um silêncio profundo. Em seguida, a ovação ensurdecedora com o tiro de largada !!
                            
                          E a partir daquele ano, creio eu, a música tema de Carruagens de Fogo tornou-se o Hino dos maratonistas.

                         Primordialmente, Carruagens de Fogo conta a história de dois atletas britânicos em preparação para a Olímpiada de 1924 em Paris. Eric Liddell (o cristão) e  Harold Abrahams ( o judeu). E eles treinam e competem--se ferozmente em Cambridge, Inglaterra. Correm para vencer o preconceito contra o antissemitismo, a liberdade de expressão religiosa.
                          E o filme de Hugh Hudson (O Expresso da Meia Noite, A Missão etc) enfoca a competição na corrida como uma forma de libertação da perseguição religiosa na Inglaterra. Então, estes dois atletas competem para, na realidade, estabelecer a sua fé e da mesma forma concretizar o seu caráter. É um ato de confirmação.
                          Afinal, o que resta nos corações e mentes é a luta.. Chegar em primeiro, segundo ou último lugar é apenas uma consequência. O filme é belo por isso. Trinta anos depois ainda me emociona. E não se esqueçam que a história se passou há quase noventa anos. Ou seja, o ser humano de bom caráter está sempre em busca de sua dignidade através do tempo.