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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012



Entrevista ao Papo de Corrida - ibahia.com


De Roma à Serra Gaúcha 
O desafio de correr 12 maratonas em 2012

Não é novidade correr 12 maratonas em um ano. Alguns maratonistas no Brasil possuem esta marca. Muitos outros espalhados pelo mundo. E nos Estados Unidos uma imensa quantidade faz isto todos os anos. Mas o fato é que foge ao senso comum correr tantas maratonas em um espaço de tempo tão pequeno, estabelecendo em média uma maratona todo mês. 
Ney Cayres, dentista, 55 anos, maratonista desde os anos 80, 68 maratonas realizadas, criou este desafio a ele mesmo no início do ano de 2012. Correu a última agora no mês de dezembro em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha.
A fim de saber mais detalhes sobre esta epopéia, o entrevistamos para este blog.

Como surgiu a Ideia de correr tantas maratonas em apenas um ano?
Nos últimos anos eu venho aumentando gradativamente a quantidade de maratonas por ano. Eu fui  obtendo memória muscular. E também confiança. Principalmente depois de ter corrido a COMRADES, a ultramaratona de 90 km na África do Sul, que é considerada uma das mais difíceis do mundo. Além disso, eu corri 2 maratonas na mesma semana( a de Praga e Bordeaux).  Então, eu necessitava de algo a me desafiar, para poder ir em frente com os meus treinos diários. Foi assim que surgiu a ideia de estabelecer 12 maratonas em 2012, já que meu aniversário este ano seria em uma data marcante, cabalística: 12-12-2012 (risos).

Como você conseguiu conciliar os treinos, as viagens com o trabalho e a vida familiar?

Esta é a parte mais difícil. Algumas vezes pensei em desistir. Principalmente, quando teria que fazer as maratonas fora do Brasil. Eu tinha que montar uma logística muito eficiente para viajar no sistema bate-volta. E o inevitável jet lag cansa muito mais do que a própria maratona. Mas com muito jogo de cintura e disciplina, que são  mesmo inerentes a todo maratonista, consegui com harmonia conciliar tudo isso.

Correndo em média uma maratona por mês, você não se tornou muito lento?

É evidente que a velocidade diminui drasticamente. Mesmo porque de outra maneira a musculatura e o corpo em geral não suportaria tamanho estresse. É de bom alvitre que se corra uma maratona veloz e a seguinte muito lentamente. Isto equilibra fisiologicamente o corpo. No meu caso, eu escolhi apenas uma maratona durante todo o ano para aproximar-me do meu recorde. O fato é que atualmente com a minha idade eu não penso muito em velocidade. Eu penso na longevidade dentro das maratonas. Porque é claro e evidente que aqueles maratonistas que perseguem indefinidamente a velocidade, o máximo, ultrapassar o limiar tolerável, não vão muito longe. Surgem logo lesões inexoravelmente !

Mesmo com toda sua experiência e, como você diz, " memória muscular" não é muita agressão ao corpo tantas maratonas?

Existe uma enorme diferença entre ser maratonista amador e profissional. O profissional sempre corre acima de cem por cento do seu batimento cardíaco. Ou, no melhor, rondando o limiar. Por isso, que há um consenso em correr apenas duas maratonas por ano entre os profissionais(claro, há alguns que se aventuram em fazer mais do que isso). Então, eles precisam de um descanso bem maior a fim de propiciar a regeneração efetiva às células das fibras musculares agredidas. É o que preconiza Tim Noakes em Lore of Running.
No entanto, diferentemente, para os amadores eu penso que quando se corre uma maratona com prazer e num ritmo lento, conversando com o colega ao lado, muito abaixo da hiperventilação, há uma resposta extremamente positiva do corpo e mente. Acredito piamente que este seja o segredo para correr inúmeras maratonas sem lesões e ser longevo. É claro que devo mencionar o fator genético, a preponderância da quantidade de fibras longas e lentas(no caso dos maratonistas). Enfim, para mim, o maratonista amador deve amar o que faz. Sem sofrimento. Cumprir a planilha de treino com prazer. Estabelecer um equilíbrio ente o corpo e a mente. Caso ele queira correr muitas maratonas durante toda a vida.

Do alto de sua experiência, o que aconselha àqueles que vão fazer a sua primeira maratona?

Primeiro, essencialmente, cumprir a planilha de treinos. Ou seja, gastar o tênis, esgarçá-lo com prazer. Segundo, não queimar etapas. Insistir repetidamente nas provas de 10 km. Depois, num segundo estágio, a meia maratona. Repetir algumas meias e daí ir ao gran-finale.

De todas estas suas maratonas de 2012, qual a melhor, qual a pior?

Bem, a que mais me emocionou foi a de Roma. Ela foi disparada a mais bonita. A largada e chegada foram no Coliseo. Não precisaria mencionar mais nada. Mas é que passamos pela Fontana de Trevi, o Vaticano, a Piazza Navona, a Escadaria Espanhola e muitos outros pontos belíssimos. E foi num domingo de sol com as ruas abarrotadas de turistas. 
A pior? Como Voltaire em Cândido, o Otimista, eu tento transformar as dificuldades de uma maratona em coisas boas, na medida do possível. Para mencionar apenas, a de Belo Horizonte foi de extrema dificuldade, com suas ladeiras, o calor, o percurso muito mal escolhido. Uma outra seria a de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. Apenas pela a altimetria, num sobe e desce infindável, compensada em muito pela beleza da região
.
 Finalmente, qual o seu plano para o futuro?

Eu pretendo continuar a  correr maratonas. É o meu hobby, o que gosto muito de fazer. Pretendo, num futuro não muito longínquo,  atingir a marca de 100 maratonas. Também entrar no clube dos 7 continentes. Eu sonho com isso. E, aqui pra nós, são estes sonhos que nos levam a enfrentar esses treinos diários debaixo de sol e chuva. Aconselho a todo corredor, iniciante ou veterano, a estabelecer metas, a sonhar o futuro. Certamente, ao final da vida, numa cadeira de balanço, ele terá histórias fantásticas a contar...