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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O VERMELHO E O NEGRO

                   
               

         O VERMELHO E O NEGRO
Creio piamente na necessidade incontornável de ler o romance a priori (aqui no caso) no qual o filme foi baseado. Mesmo assim, a empreitada do diretor Claude Autant-Lara não foi nada fácil, já que a obra-prima de Stendhal, um dos maiores clássicos da literatura francesa, conhecido e consagrado no mundo inteiro, de certa maneira inibe e amendronta a adaptação para o cinema ou o teatro etc.
Henri-Marie Beyle, o verdadeiro nome de Stendhal, que utilizou mais de 170 pseudônimos, desenvolve uma trama de um realismo massacrante, intenso, onde denúncia a hipocrisia, a mentira, o ciúme, a inveja, maldade reinante na sociedade francesa nos momentos cruciais da Restauração. Napoleão já se encontrava em Santa Helena. A Revolução Francesa ainda marcava as lembranças de um tempo não muito distante. Mesmo com o absolutismo apagado definitivamente, vê-se a persistência da opressão, a imobilidade social, a religião ditando os movimentos da sociedade, a liberdade, igualdade e fraternidade ainda engatinhando.  E ainda a injustiça marcante no seio extrato social.
Stendhal criou o protagonista, Julien Sorel, lá na fictícia Verrières, vilarejo do interior, filho de carpinteiro miserável, para revelar a inútil e perigosa trajetória ambiciosa da ascensão social na época. Julien usa como catapulta a Igreja Católica para, através dos estudos adquiridos, penetrar na aristocracia. Mas não foi aceito devido à sua origem humilde, embora tenha se tornado um latinista, um conhecedor da religião católica, sem ser na verdade um crente na intimidade.
Julien Sorel foi condenado à guilhotina não pela tentativa de assassinato mas por sua ousadia de imiscuir-se nas famílias da alta sociedade. E, pecado maior, ter amado as mulheres desta mesma sociedade fechada aos intrusos de uma dita classe inferior.
Então, Stendhal denuncia realisticamente as injustiças e o desprezo que a casta superior mantém com os desvalidos, os sem títulos.
O filme francês na versão de 1954, mais de um século depois da obra original, tradicionalmente enfatiza a vida amorosa e o heroísmo de Julien. A cena inicial, magistral, ocorre no tribunal quando o réu pronuncia-se de forma emocionante. E ali mesmo, sentado, esperando o veredito,  Julien inicia um flashback revelando o seu primeiro contato com a família do prefeito, começando sua carreira de preceptor. Em seguida a entrada no seminário, a ida à Paris, onde sonhava finalmente com a sua escalada social.
Belo filme que retrata “quase” fielmente a obra máxima de Stendhal. Claro, muitos trechos do livro foram cortados para adaptação, mas que não comprometeram a sequência. Como disse André Bazin no “Cahiers du Cinéma”: “ a escolha de suprimir partes do romance me parece arbitrária com relação aos que eles mantiveram. Mas, ainda assim, é preciso dar crédito ao filme, que fez um um trabalho considerável de adaptação. Façam uma lista de romances adaptados para o cinema, romances tão sutis como esse, e vejam quais filmes podem nos interessar a esse ponto sobre a realidade moral dos seus personagens”...










































 O VERMELHO E O NEGRO
Creio piamente na necessidade incontornável de ler o romance a priori (aqui no caso) no qual o filme foi baseado. Mesmo assim, a empreitada do diretor Claude Autant-Lara não foi nada fácil, já que a obra-prima de Stendhal, um dos maiores clássicos da literatura francesa, conhecido e consagrado no mundo inteiro, de certa maneira inibe e amendronta a adaptação para o cinema ou o teatro etc.
Henri-Marie Beyle, o verdadeiro nome de Stendhal, que utilizou mais de 170 pseudônimos, desenvolve uma trama de um realismo massacrante, intenso, onde denúncia a hipocrisia, a mentira, o ciúme, a inveja, maldade reinante na sociedade francesa nos momentos cruciais da Restauração. Napoleão já se encontrava em Santa Helena. A Revolução Francesa ainda marcava as lembranças de um tempo não muito distante. Mesmo com o absolutismo apagado definitivamente, vê-se a persistência da opressão, a imobilidade social, a religião ditando os movimentos da sociedade, a liberdade, igualdade e fraternidade ainda engatinhando.  E ainda a injustiça marcante no seio extrato social.
Stendhal criou o protagonista, Julien Sorel, lá na fictícia Verrières, vilarejo do interior, filho de carpinteiro miserável, para revelar a inútil e perigosa trajetória ambiciosa da ascensão social na época. Julien usa como catapulta a Igreja Católica para, através dos estudos adquiridos, penetrar na aristocracia. Mas não foi aceito devido à sua origem humilde, embora tenha se tornado um latinista, um conhecedor da religião católica, sem ser na verdade um crente na intimidade.
Julien Sorel foi condenado à guilhotina não pela tentativa de assassinato mas por sua ousadia de imiscuir nas famílias da alta sociedade. E, pecado maior, ter amado as mulheres desta mesma sociedade fechada aos intrusos de uma dita classe inferior.
Então, Stendhal denuncia realisticamente as injustiças e o desprezo que a casta superior mantém com os desvalidos, os sem títulos.
O filme francês na versão de 1954, mais de um século depois da obra original, tradicionalmente enfatiza a vida amorosa e o heroísmo de Julien. A cena inicial, magistral, ocorre no tribunal quando o réu pronuncia-se de forma emocionante. E ali mesmo, sentado, esperando o veredito,  Julien inicia um flashback revelando o seu primeiro contato com a família do prefeito, começando sua carreira de preceptor. Em seguida a entrada no seminário, a ida à Paris, onde sonhava finalmente com a sua escalada social.
Belo filme que retrata “quase” fielmente a obra máxima de Stendhal. Claro, muitos trechos do livro foram cortados para adaptação, mas que não comprometeram a sequência. Como disse André Bazin no “Cahiers du Cinéma”: “ a escolha de suprimir partes do romance me parece arbitrária com relação aos que eles mantiveram. Mas, ainda assim, é preciso dar crédito ao filme, que fez um um trabalho considerável de adaptação. Façam uma lista de romances adaptados para o cinema, romances tão sutis como esse, e vejam quais filmes podem nos interessar a esse ponto sobre a realidade moral dos seus personagens”...