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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

MASSACRE EM GUERNICA





Massacre em Guernica - A praça do Mercado já repleta de habituais compradores, donas de casa, moradores dos  vilarejos montanhosos vizinhos que chegam com os primeiros raios de sol. Ouve-se um burburinho de gritos, chamamentos, conversas amistosas entre moradores, algazarras das crianças que  correm num alegre e divertido vaivém.  A primeira esquadrilha de aviões de guerra alemães passa em baixa velocidade, num insuspeito ato de  reconhecimento, deixando  um rastro de fumaça no céu como um desenho lúdico executado pela mais inocente criança. Toda a gente para e levanta o olhar num misto de espanto e insipiência. Ninguém vira aquilo antes.  Guernica, a pequena vila incrustrada nas montanhas bascas, não vaticina o iminente inferno dantesco que se implantaria dali a instantes. Poucos minutos depois, uma grande e potente esquadrilha da Luftwaffe despesa as primeiras bombas sobre a cidade. A pobre Guernica, desconhecida até mesmo nos mapas, fora a escolhida pelos nazistas para testar a eficiência da nova forma de ataque - blitzkrieg - . Apenas um treinamento. Uma bomba voa e explode no claustro da catedral. O pároco corre em braços abertos na direção do centro da praça, o olhar desesperado aos céus, rogando, praguejando em angústia infinita. Mais uma bomba cai no meio da praça do Mercado. As vísceras de um cavalo são lançadas e espalhadas no calçamento já inundado de sangue e poeira. Uma mãe corre e abraça a filha ainda criança, num ímpeto materno inconsolável. As duas sucumbem com a explosão seguinte da terceira bomba. Perto dali a recém-chegada fotógrafa da revista New Yorker's faz a primeira foto: cena de Pietá!! Um degrau abaixo de Dante.  Para confirmar a eficiência da blitzkrieg, uma chuvarada de bombas agora destroi sem pena todo o pacato vilarejo de invisíveis seres humanos inofensivos.  Mais uma vez, a esquadrilha faz uma meia-volta por detrás das montanhas e despeja um sem número de artefatos incendiários deixando uma.montanha de escombros e fogo. O golpe de misericórdia.
Uma pausa.
Respiro um pouco. Bebo um gole de água. Me aproximo. As duas monitoras me observam com olhares discretos.  Aqui no Museu da Rainha Sofia em Madrid, num salão exclusivo, volto a examinar detalhes do imenso painel - obra máxima e mais célebre - do pintor espanhol Pablo Picasso. Cheguei cedo para apreciar por um longo tempo, antes mesmo da horda de turistas invadir o salão.
          É assim talvez carregado de emoções ou cansaço que minhas pernas tremem. Venho da maratona de Lisboa, a qual corri há alguns dias, parando um breve tempo na capital espanhola para enfim realizar simples homenagem à esta obra universal e eterna da humanidade.