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domingo, 13 de janeiro de 2019

O Regresso ao Melhor de Jorge

            

     O REGRESSO AO MELHOR DE JORGE





    Venho de guardar o último capítulo, intitulado Archanjo, para ler e finalizar a recém-lançada biografia de Jorge Amado no jardins do quintal da famosa casa do Rio Vermelho - Rua Alagoinhas, 33.
      Venho visitar o Memorial com meu sobrinho e fotógrafo preferido Maurice. Ficamos emocionados com o clima leve, transcendente, de magia e uma atmosfera de tranquilidade que exalam de cada canto da casa do maior escritor baiano. 
        No derradeiro capítulo da excelente biografia de aproximadamente seiscentas páginas da escritora e jornalista Josélia Aguiar lê-se: "Jorge dizia que depois de morrer ficaria vinte anos esquecido." Mas aqui sente-se que Jorge estará para sempre vivo e lembrado eternamente. Os atentos turistas que circulam em passos lentos incessantemente atestam e corroboram este sentimento.
         E uma turista loira de olhos verdes para ao redor do lago dos sapos ouvindo no headphone a canção de Caetano Veloso inspirada no seu amigo Jorge.

Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história....


         A música vaza em bom som dos ouvidos da encantada jovem visitante e me faz sentir aumentar a alegria e emoção e de em seguida sentar para ler finalmente o final do livro. E aqui sentado no banco do jardim da casa, vejo onde foram espalhadas as cinzas de Jorge e Zélia Gattai. 
             Talvez incentivado por esta biografia de fôlego voltei a ler o melhor de Jorge Amado (porque, como na maioria dos escritores de obra extensa, há trabalhos desprezíveis). Iniciei pela releitura de Capitães da Areia, livro-denúncia, queimado em praça pública pela ditadura Vargas, que aborda a miséria humana, o abandono das crianças numa cidade de desigualdade social  profunda. 
          Depois peguei nas quatro mulheres em um só volume - Gabriela, Tereza, Tiêta e Dona Flor - sentindo que estarei envolvido por um longo e incansável período, já que outros afazeres e leituras me ocupam. Mas a tarefa hercúlea é prazerosa! 
         Há O País do Carnaval, primeiro romance, que li há muito tempo e não pretendo relê-lo, porque a melhor literatura  de Jorge está nos romances que descrevem os personagens baianos e seus foclores.
          Por fim, gosto dos escritos de Jorge, apesar de pouquíssimas ressalvas, e de seu engajamento durante toda a vida em defesa dos mais fracos, dos desvalidos, dos oprimidos. E ele, como eu mesmo, acreditava na vida bem vivida, bem viajada, no humanismo, no altruismo como sendo os verdadeiros valores do ser humano no planeta Terra.