Translate

sábado, 23 de março de 2019

COMO CURAR UM FANÁTICO





               COMO CURAR UM FANÁTICO


              
               O eterno conflito entre judeus e árabes palestinos por uma partilha de terras justa e permanente e consequentemente a esperança de um dia ver reinar a paz entre esses povos é o principal tema deste ensaio do escritor israelense Amós Oz. Volto à escrita desse israelense, nascido em Jerusalém, porque ao ler De Amor e Trevas, um romance, descobri um autor de textos objetivos, densos e ao mesmo tempo povoados de humor. Um humor que serena a tragédia palestina e judia. Um humor que enfraquece a dureza do fanatismo, do radicalismo, da ortodoxia.
              Em verdade o assunto central deste ensaio é abordar o fanático, este ser tão reprodutivo no mundo contemporâneo. Em apenas cem páginas, Oz disseca o perfil enigmático e conflituoso do fanatismo religioso. E, por falar em humor, logo nas primeiras páginas sugere que "Fanáticos não têm humor, e raramente são curiosos. Porque o humor corrói as bases do fanatismo e a curiosidade agride o fanatismo ao trazer à baila o risco do questionamento para não ser revelado o seu próprio erro."   E eu penso que Amós conhece bem o tema, pois viveu dentro de um caldeirão de fanáticos cegos em democracia, em liberdade, em respeito à diversidade. Ele pondera que Jesus Cristo disse "Perdoa-lhes: eles não sabem o que fazem". Mas ressalta que o fanático quer sempre infligir dor. E eles sabem o que fazem.  E explicando melhor, acentua que o "fanatismo e fundamentalismo muitas vezes têm uma resposta com uma só sentença para todo o sofrimento humano. O fanático acredita que se alguma coisa for ruim, ela deve ser extinta....O fanatismo é muito antigo. É muito mais velho que o islã, o cristianismo e o judaísmo".  E confirmando o que vemos com frequência, diz que "o fanatismo muitas vezes origina-se na vontade imperiosa de modificar os outros pelo próprio bem deles".  E que "muitas vezes, essas coisas começam em família, o fanatismo começa em casa...um impulso de viver sua vida calcada na vida de outra pessoa".
              Em certo momento, principalmente já no final, antes de uma entrevista grandiosa concedida no final de 2003, volta ao conflito entre palestinos e israelenses. Ele desejaria viver mais - morreu em 2018 - para ver consagrada a tão desejada paz. E ainda assim, debaixo de tantos conflitos, de tanto fanatismo, vislumbra um fio de esperança. Enfatiza que toda a sua obra direcionou para o "compromisso" entre os irmãos. Mesmo que muitos fanáticos tentaram desviar e "transformar o que eu descrevi como uma 'disputa imobiliária' numa Guerra Santa.
                É um pequeno texto, penso eu, que tem a condição necessária para aqueles que querem entender e acreditar na solidariedade social, na democracia e no livre arbítrio.